sexta-feira, 2 de abril de 2010

Espelho meu, espelho meu, haverá alguém mais belo do que eu?

Quando estamos rodeados de determinadas pessoas, num determinado local, a uma determinada hora, surgem também determinados assuntos, que se não estivessem reunidas as condições perfeitas, nunca na vida nos lembraríamos de tal coisa.

Pois as condições que levaram a esta ideia são fáceis de reunir, basta um adorável grupo de cinco amigos, numa casa em Lisboa, mais precisamente Linda-Velha (751), um quarto de casal, porta fechada, madrugada, muitos pijamas, muitas gargalhadas, uns encostados à cabeceira, outros no local oposto, cartas espalhadas, cigarros apagados no cinzeiro, pessoas sonolentas, outras nem por isso...imaginem portanto diálogos entre sonâmbulos e seres bastante despertos, misturar duas dimensões: a realidade e o sonho!

Ora o assunto que mais me fascinou nessa noite de deboche saudável, foi quando alguém, já não sei porquê, indagou "E se nos apaixonássemos por nós mesmos?".

Essa ideia pairou na minha mente os próximos dias e tive oportunidade de reflectir um pouco. Normalmente nunca se fala desse amor, pois não é considerado amor, mas talvez egocentrismo, fala-se de Narciso e da sua obsessão pelo seu aspecto que o levou à morte por afogamento, mas o que eu agora estou a tentar fazer é imaginar não este amor físico, mas sim um amor muito mais profundo...será possível alguém apaixonar-se por si próprio...crescer sempre à procura de alguém inteligente, que goste das mesmas coisas que nós e nos mostre outras, alguém sensível, romântico, dado à discussão (este é um ideal, entre muitos, claro). Uma procura incessante que só leva a relações falhadas e desgostos amorosos. E se este ideal tão desejado estiver tão perto de nós que não o conseguimos ver?! Esta pessoa está connosco constantemente e eternamente, nunca nos poderá deixar, nascemos juntos e morremos juntos e para a vermos basta uma superfície polida o suficiente...Chamem-me lunática...chamem a esta interrogação uma abominação, mas será assim tão ilógico? Não julguem esta ideia já, antes de o fazerem, vejam-se ao espelho...

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2 comentários:

  1. Olá :) ao tempo que não passava pelo teu cantinho.
    Gostei deste post, visto que muitas vezes me vem essa questão à cabeça. Para te explicar o meu ponto de vista, vou dar um exemplo em concreto.
    À uns meses conheci um ex-casal que ainda são muito amigos. Quando os conheci, não sabiam que tinham namorado (durante mais de três anos!). Achei que eram só os melhores amigos. Falar com ele é o mesmo que falar com ela: têm as mesmas ideologias, os mesmos gostos, os meus ideais, as mesmas opiniões...são aquilo que, no senso comum, chamam de "cara metade" (sobre isso já falo!).
    Quando me disseram que já tinham namorado, e durante tanto tempo, com alguma timidez de recém-conhecida perguntei-lhes porque é que tinham acabado, já que ainda se davam tão bem e eram iguais. A rapariga respondeu-me com esta pergunta retórica, que acho que nunca vou esquecer: "Já pensaste o que é namorares contigo própria?"
    Fiquei a matutar nisso durante algum tempo e agora, partindo para o teu post em concreto, acho possível apaixonarmos-nos por nós próprios. Aquilo que gostamos, aquilo que pensamos e aquilo pela qual temos as nossas certezas são para nós o certo, o correcto, o perfeito. Mas, por vezes, não se pode tirar o proveito do perfeito. Por vezes a perfeição física (infelizmente) ultrapassa a perfeição intelectual. Acredito que, o proveito passa pela imperfeição: pelo unir de duas peças com arestas diferentes. Caras metades para se encaixarem têm que ser diferentes: preto ou branco; yang ou ying; noite ou dia.
    Temos que nos amar para vermos essa imperfeição...se é a nossa ideia tirar o proveito do amor, terá que ser, infelizmente (ou felizmente?) da imperfeição e não da perfeição.

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  2. Podemos e devemos apaixonar-mo-nos por nós próprios porque a unica pessoa que se mantêm uma constante na vida é a nossa. Por mais acompanhados que estejamos, por vezes, sentimo-nos sozinhos desamparados porque o nosso amor próprio não existe. O ser humano sempre conseguiu viver acompanhado daí vivermos em sociedade, sempre conseguiu amar os outros e expressar esse sentimento mas será que consegue viver consigo próprio, será que se consegue amar? E como é que pode amar outro se não se ama a si? (O sser humano deve AMAR-SE! deve sentir esse sentimento sempre pois é isso que o faz continuar e é isso que o faz sobreviver, pode ser uma maneira egôcentrica de ver o assunto mas nós temos é de estar bem conosco(;

    DEVIAS EXPERIMENTAR POESIA (;

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