terça-feira, 1 de junho de 2010

Pensamentos sem nexo, nem desejo de nexo...

Sinto que tenho algo a dizer, não sei o quê, mas sinto as palavras simplesmente fluírem, a caírem no abismo, percorrerem os meus nervos, até chegarem à extensão do meu corpo, os meus finos dedos.
A minha cabeça é, maior parte das vezes um tumulto de emoções, nada melhor do que uma erupção para fazer uma analogia e como um grande ídolo meu (a minha progenitora) outro dia me disse: "Às vezes queres escrever, mas os teus dedos, o teclado do computador, a caneta, a tinta da caneta, o lápis, a grafite o que quer que seja, simplesmente não te conseguem acompanhar". É verdade e por esta mesma razão há tanto que fica por dizer, pensemos em grandes autores, pensadores que arriscarem despejar o seu conteúdo cerebral, a sua alma algures, o que é que se perdeu? Há um arquivo para o que se queria dizer e não foi dito, ou essas ideias passam imediatamente para as entrelinhas? Será que se relermos "Assim falou Zaratustra", por exemplo, vamos descobrir uma nova teoria completamente alternativa? Um livro dentro de um livro?
Como a minha frágil mente já divagou, nestes dois minutos de processamento de imagens e de ideias e tudo assim do nada.
Sentada, no quarto, rodeada de móveis, peluches, aparelhos electrónicos, filmes, CD's, carteiras, perfumes, livros, roupa, muitas, mas mesmo muitas recordações, nos mais variados formatos...
Olho para a porta entreaberta, a luz cor-de-rosa do meu quarto ilumina a escuridão que assombra o meu corredor. Aquele corredor que supostamente me liga à minha casa, mas agora sinto o corredor aumentar o seu comprimento, a minha casa está a tornar-se a do Tim Burton (risos). O meu quarto é agora a única divisão do universo, isto é o mundo, as pessoas as coisas! Os escassos bonecos que sobreviveram à fase "Sou adolescente, bonecos fora daqui" observam-me, por vezes ainda tento comprovar a minha teoria e de todos os petizes a certa altura da vida, será que quando viramos costas eles vivem, falam, mexem-se?! Então dou por mim a sair porta fora, com as mãos atrás das costas, a assobiar uma cantilena agradável, cerro a porta e numa viragem súbita e inesperada, abro novamente a porta e: APANHEI-VOS! E é então que se ouvem grilos...ai como eles se devem rir por dentro estes mistos de algodão e tecido!
Depois há os roupões por trás da minha porta, agora vocês perguntam qual é agora o trauma desta com roupões? Absolutamente nenhum, só que quando somos crianças gostamos que nos contem histórias e há sempre aquela noite em que não queremos que a história esteja num livro onde toda a gente a possa ler, nem queremos que seja uma já badalada história que já tem todos os pormenores esgotados, queremos uma história inventada por ti mãe/pai!
Ora bem, houve uma noite que a minha mãe me contou a história de dois pastorinhos que andavam com o seu rebanho num monte absolutamente tenebroso! Chovia muito, relâmpagos pareciam cercá-los e houve uma das ovelhinhas que fugiu, os irmãos pastorinhos tentaram persegui-la pois não podiam voltar a casa sem uma ovelha senão os pais não os perdoavam! Ao procurarem a ovelhinha acabaram por perder todo o rebanho, a pequena menina chorava e o irmão tentava reconfortá-la. Acabaram por ir para casa e quando chegaram estranharam, mas os seus pais não estavam lá, aproveitaram a ocasião para se fecharem no quarto a tentar arranjar uma solução e foi então que as peças de roupa estendidas na cama que constituíam os seus pijamas (calças, camisas e roupões) ganharam vida, pareciam vestir alguém, mas na verdade não! Como podem imaginar foi a animação total e por breves momentos esqueceram-se os problemas, uma droga leve esta, a alegria.
Isto é o máximo que me lembro da história, achei absolutamente inovadora esta história dos pijamas dançantes, ainda hoje me rio disso com a minha mãe...
Bem quem diria que iria acabar a noite neste estado de nostalgia puro e duro, a coçar a cabeça e a rir de memórias tão genuínas e tão duradouras, ao que a desarrumação do meu pacato covil de lobinha me leva.
Vês mãe, será assim tão má a desorganização levada ao extremo, continuará a ser má mesmo quando nos proporciona momentos de inspiração e êxtase como este?
Olhem o corredor encurtou muito, já vejo a resto da casa, o mundo já não existe só aqui, a minha cabeça desacelera, o turbilhão acalma, o teclado soa menos vezes e, é então que...shiu

1 comentário:

  1. Delicioso :) É importante que nunca deixes que essa ponte que se cria te afaste da beleza e do brilho do que está do outro lado dela... ;)

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