sábado, 30 de janeiro de 2010

Comboio Regional está a partir

Hoje esperava-me uma viagem pequena,solitária e madrugadora, ao entrar naquele comboio sentia-se o vazio, a ausência de destinos e de pontos de partida a pairar no ar. Uma única passageira a olhar da janela do veículo parado, um vislumbre à velha estação de caminhos de ferro, histórias de pontos de encontro e de desencontros povoaram a minha cabeça. Enfrentava um daqueles períodos de espera em que tendemos a ficar nostálgicos e pensativos, pois estão reunidas todas as condições para tal: um meio de transporte deixado ao abandono, o sol acabado de nascer, a geada que ainda cobre o solo, um local carregado de recordações.
Por fim os restantes passageiros juntam-se a mim nesta viagem à "Terra do Nunca", às memórias que não são nossas. São de todas as idades, as crianças bocejam e amaldiçoam quem os retirou do ninho, os jovens aparentam estar despreocupados com os headphones tentando isolar-se, quando são tão atormentados e perseguidos como os outros, os mais idosos que entram carregados de sacos cujo conteúdo se destina ao dia passado nos seus terrenos. O revisor chega, na sua farda que espanta crianças e não passa despercebida ao suposto alheamento dos adolescentes. Conversa com os homens e mulheres de trabalho, temas banais, mas que permitem a todos os passageiros o desanuviar daquele temível período de isolamento com o nosso cérebro. "Segundo dizem o tempo está bom, menos frio do que ontem, ainda assim a geada é notável, mas em breve derreterá...o Sr.Branco e a esposa estão no lar...a esposa ainda estava viva?...sim sim, estão os dois no lar novo, digo-lhe já que é muito jeitoso."
O revisor caminha para trás e para adiante, não entendo porquê, estará a verificar se está tudo em ordem, ou estará tão ansioso como um menino no primeiro dia de aulas? São 08:43, está na hora, partida. Os rituais que ainda nos distraem, picar e comprar bilhetes, uma pequena piada aos idosos que viajam sem pagar e hei-lo outra vez...o silêncio. Mas agora um silêncio diferente, um silêncio com movimento, um silêncio menos monótono, um silêncio com uma paisagem, um silêncio com uma paisagem que se altera constantemente, depara-mo-nos a tentar apanhar todos os pormenores de cada quadro, mas não é possível, eles são tantos! 1ª Paragem - Tortosendo Novas pessoas que entram, novos bilhetes e novas conversas, talvez até repetidas, velhos conhecidos que se encontram entre paragens e põem a conversa em dia. 2ª Paragem - Alcaria Mais do mesmo, mas agora que estamos habituados ao ritmo e ao silêncio que deixou de ser desconfortável, a última paragem aproxima-se...cada vez mais...3ª Paragem - Fundão Fim da linha...mas será mesmo?


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